Viagens (reeditado)
Quando se passa muito tempo a viajar, consegue-se realmente parar para pensar. De repente colocámos a nossa vida quotidiana em pausa, para a podermos analisar sem termos que nos preocupar com a continuidade da rotina. Projectos, relações, família, amizades, tudo nos vem ao pensamento. Consegue-se até, por vezes, muito mais do que analisar a nossa vida, analisarmo-nos a nós próprios e o porquê das nossas opções.
Em Moçambique, devido a todas as diferenças no modo de estar, condições de vida, clima, hábitos, cultura e filosofias que encontrei, consegui ter uma amostra do que seria uma viagem ao “eu”. Mas em nada comparável ao que me tem acontecido aqui na Argélia. Acredito que terá sido a combinação de vários factores que acabou por se tornar algo explosiva.
Não sei o que sentirão outras pessoas, que direccionam grande parte das suas energias para tentar conhecer um pouco mais deste grão de areia no Universo, que é o planeta Terra. Agora, sei bem o que eu tenho sentido nestes últimos dias.
Já passei por muito, estive em locais completamente distintos, conheci e falei com muita gente de vários povos e de todos os estratos da sociedade. Se todos somos o que vivemos, então já tive a oportunidade de absorver uma enorme variedade de experiências e opiniões.
Querer conhecer outras culturas, foi algo que sempre me atraiu em todas as viagens que fiz. O cenário em que nascemos influencia para sempre a nossa personalidade. Se nascesse num país muçulmano, o mais provável seria ser seriamente devoto à religião. Assim como, se nascesse na Índia teria uma infinidade de deuses tão grande para adorar, que hoje precisaria talvez, de anos de estudo para conhecer o profundo significado de cada um. Ou então, se nascesse nos Estados Unidos, talvez adorasse o BigMac, a Pepsi, ou a Coca-cola, enquanto assistia na CNN à chegada dos meus compatriotas a mais um palco de guerra. Tal não aconteceu assim, e sendo qualquer ser humano feito da mesma matéria, nenhum poderá julgar outro sem tentar primeiro conhecê-lo, enquadrando o seu passado e meio em que cresceu.
Graças ao meu espírito de abertura, por vezes surreal, acabei no passado fim-de-semana por me ver mergulhado na religião muçulmana. Acabou por se tornar numa experiência avassaladora, que ainda estou a assimilar. Sempre que regresso de uma viagem encontro o meu país diferente, quando na realidade quem mudou fui eu. Sinto que desta vez a metamorfose foi grande. Tanto que já me apercebo dela e ainda nem as malas fiz para regressar.
Na verdade, quando se abre o espírito, libertando-o de preconceitos e estereótipos, para tentar conhecer uma cultura diferente, devemos estar preparados para reavaliar no final os nossos próprios valores. Fui educado segundo os parâmetros de uma cultura ocidental, e dessa educação, na qual os meus pais tiveram um papel fundamental, resultaram uma série de valores pelos quais me rejo diariamente. Claro que hoje estes valores já foram por mim moldados, fruto das minhas vivências, dificuldades e preferências. Mas, sejam quais forem esses valores, gosto que outros os respeitem, assim como eu tento respeitar outros também.
Até ao fim-de-semana passado, desconhecia quase completamente a religião muçulmana e tudo o que a envolve. Hoje, ainda não posso dizer que a conheço, mas já tenho uma ideia presente, e não um estereótipo que os media decidiram dar-me a conhecer. Infelizmente, e esta é a minha humilde opinião, actualmente existe uma certa confiança cega nos meios de comunicação ocidentais, e ninguém se questiona da verdadeira qualidade da informação que consumimos. Deixo no ar uma pergunta: Será que as notícias são as mesmas para todas as culturas?
Sem dúvida que o que nos toca mais na vida são as pessoas, e não é preciso correr o mundo para que tal aconteça. Há alturas na vida de mudança e eu estou a atravessar uma delas. Tudo provocado por um conjunto de pessoas, completamente distintas, com quem tive a oportunidade de conviver nos últimos meses, aliado ao facto de estar num país com uma religião diferente, cuja ocupa um lugar de peso na organização da sociedade. Esta mudança acabou também por afectar aquilo a que me proponho partilhar neste blog.
Ora não podendo a obra ser dissociada do autor e da sua realidade, não pode também um pequeno texto ser interpretado como um todo. Poderia retirar do meu bloco de notas uma infinidade de passagens, escritas em momentos completamente distintos, que por um ou outro motivo decidi imortalizar. Mas tal não faria sentido pois tais passagens estariam desprovidas de contexto. Pelo contrário, quis antes tornar este blog numa espécie de apêndice do meu bloco de notas. Desta forma, acredito conseguir dar outra dimensão e enquadramento às experiências que vou relatando.
Afinal o que sentirá um grande escritor ao reler a sua obra-prima passado algum tempo? Será que nesse momento a escreveria da mesma forma? Tenho a certeza que não. Bem ou mal, escrevo embalado pelo momento. E sim, tento sempre passar uma mensagem. Mas será essa mensagem generalizada? Ou direccionada? Levantar esta dúvida não foi nunca, nem será o objectivo das minhas palavras. O espírito de cada um decidirá o que absorver e cada ciberleitor terá a sua própria interpretação do que lê.
Lógico que quem me conhece poderá dar outro enquadramento ao que escrevo. Mas o objectivo da minha escrita é dar outro significado ao pragmatismo, tentando despertar o lado B de cada um. Pois sou criativo, sonhador, romântico, visionário e muitas vezes nada racional.
Mas não farão o sonho e a irracionalidade também parte das nossas vidas? Qual é o tema das músicas que teimam em tocar incansavelmente nas rádios de todo o mundo? Será esse tema racional? Será ele apenas sentido, percepcionado, sei lá... pelo autor de cada música? Ou será cada um de nós capaz de o sentir, nem que seja pelo menos uma vez na vida? Quem nunca sentiu algo que não tivesse explicação, que pudesse mudar de tal forma o seu estado de espírito, ao ponto de fazer soar qualquer simples melodia como uma sinfonia, ou tornar um dia de chuva num dia absolutamente perfeito?
A espontaneidade é a genuinidade da vida, basta apreciar uma criança. Eu não tenho jeito para jogos de cinismo, aparências, ou status, e por isso já perdi muito. Ou será que não mantive antes a minha integridade?
Das coisas que mais aprecio na vida é ver as pessoas dançar. Desde os primórdios dos tempos que civilizações antigas utilizam rituais de dança para se libertarem e atingirem estados superiores de consciência. Basta ouvir a nossa música preferida para nos apercebermos do poder que ela tem. Estas civilizações viviam em contacto permanente com a natureza e em harmonia com a mesma. Hoje parece que as pessoas se esquecem de onde estão.
NÓS ESTAMOS EM CIMA DE UMA MINÚSCULA MOLÉCULA DE ALGO GIGANTESCO, CHAMADO UNIVERSO.
Pensar nisto dá-nos uma dimensão completamente diferente dos nossos problemas. Temos um poder inacreditável que desperdiçamos a cada segundo que passa, mas isto é outra história...
Começando e acabando nos sentimentos, existem tantas coisas neste mundo que ninguém consegue explicar. Mas vamos deixar a ignorância negar o que é evidente? Infelizmente, com o desenvolvimento das sociedades ocidentais e a complexidade das relações que enfrentamos diariamente, de uma forma geral, hoje paira no ar um medo generalizado de cada um ser simplesmente como é.
Depois de ter publicado alguns dos últimos posts com conteúdo mais “pessoal”, chegaram até mim diferentes reacções. Resolvi então dar esta achega mais “pés na terra”, para lançar ainda mais dúvidas para o ar!
Certamente que, tendo eventualmente sido meu objectivo endereçar alguma mensagem por aqui deixada antes, o farei inequivocamente em momento oportuno. Não o tendo feito já, não gostaria que tal fosse assumido como um dogma, mas sim como um estímulo à imaginação de qualquer transeunte cibernauta que por aqui passe.
Não sei como será o dia de amanhã, mas uma certeza fica porém, depois dos comentários anónimos que foram já deixados no Life Trips, que exprimem opiniões estereotipadas e preconceituosas, as quais recuso aprovar por serem destrutivas, irei continuar a escrever sobre este tuga à descoberta de novos mundos, novos povos, novos horizontes. Através dos meus testemunhos continuarei a tentar mostrar outros pontos de vista, para além daqueles que nos são dados a conhecer através dos media ocidentais.
Bons ou maus, já haverá quem frequente assiduamente estes caracteres. Ou não falassem por si mesmas as visitas ao Life Trips.
Paz.
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