Uma grande amiga minha realizou um dos seus sonhos e viajou, há pouco tempo, até à Índia, para fazer voluntariado.
Pessoalmente, admiro as pessoas que são capazes de dedicar um pouco da sua vida, a ajudar aqueles que mais precisam.
Aqui fica a reportagem do Independente de Cantanhede.
Escusado será dizer que vale a pena ler até ao fim!
Ana Cardetas foi voluntária na Índia
Escrito por Regina Bilro
05-Jun-2007
Foi o espírito de aventura e, simultaneamente, a vontade de contribuir por pouco que fosse para melhorar a vida de outras pessoas que levou Ana Cardetas, da localidade da Pena, a fazer voluntariado na Índia. Há cerca de dois meses, a jovem de 27 anos seguiu com um amigo até Kanda, uma pequena aldeia no norte da Índia, onde trabalhou numa pequena comunidade rural durante cerca de duas semanas. Apesar de curta, a experiência abriu-lhe os horizontes e mudou a forma como encara a vida. Impressionada com a pobreza extrema daquele povo, decidiu continuar a ajudá-lo, divulgando a ONG com que colaborou.
Um caderno, um lápis e uma criança atenta à forma que vai surgindo do contacto da ponta do lápis no papel branco.
Numa pequena aldeia a norte da Índia, Ana Cardetas, da localidade da Pena, freguesia de Portunhos, esboçava uma borboleta para presentear a menina de oito anos que acompanhava com avidez o avanço do desenho.
Quando a figura ficou concluída, a rapariga agarrou o caderno num abraço, e beijou-o como se de um tesouro se tratasse.
“Os indianos têm o hábito de beijar aquilo de que gostam muito”, afirma a jovem de 27 anos, explicando a atitude da menina.
O episódio é um dos milhares que ficaram na memória de Ana Cardetas depois da viagem que fez há cerca de dois meses ao norte da Índia. E uma das que mais a marcou. Em Portugal, como noutros países tidos como desenvolvidos, onde as crianças dispõem dos mais diversos brinquedos e formas de entretenimento, um desenho não passa disso mesmo. Mas para aquela menina indiana, significava também um gesto de atenção e carinho.
Viagem marcante
À primeira vista, Ana Cardetas não parece corresponder à imagem tradicional de um voluntário. Vestida segundo o estilo hippie moderno, vários brincos nas orelhas e penteado “tresloucado”, a jovem pode causar estranheza aos mais tradicionalistas. Mas ao fim de dois dedos de conversa, é impossível não reparar na sua invulgar sensibilidade.
O relato que faz do breve período que passou na Índia, colaborando com uma pequena comunidade rural no norte do país, facilmente reporta o interlocutor para uma viagem que a marcou profundamente. E que espera vir a repetir.
“Aquilo é outro mundo”, afirma Ana, referindo-se à forma como os indianos levam a sua vida. Num país marcado pela pobreza, onde, de um momento para o outro, uma intensa tempestade pode levar os poucos haveres de uma família, foi-lhe interessante perceber a leveza com que cada dia é levado.
“Tudo o que eles comem é semeado e preparado por eles à mão. São eles que semeiam e colhem o trigo, que o transformam em farinha e que cozem o pão, por exemplo. E sem a ajuda de máquinas. Com tanto trabalho, é impressionante como têm tempo para tudo”.
Juntar o útil ao agradável
Quando, no início do ano surgiu a hipótese de concretizar o sonho de trabalhar como voluntária na Índia, Ana mal quis acreditar.
“Era ouro sobre azul”, diz, referindo-se à oportunidade de juntar o desejo que sempre teve de fazer voluntariado, à vontade de conhecer a Índia.
A ocasião surgiu por intermédio de um jovem que conheceu na festa de passagem do ano. Também interessado em contribuir, por pouco que fosse, para melhorar a vida de pessoas dos chamados países do terceiro mundo, tinha encontrado uma forma de o fazer. Através da Internet, estabeleceu contacto com uma organização indiana (ROSE – Rural Organisation for Social Elevation) que aceitava voluntários para diversas áreas.
Aproveitando o final do estágio profissional numa empresa de Coimbra, Ana decidiu acompanhá-lo, interessada sobretudo no trabalho com crianças. A falta de tempo (ambos tinham apenas um mês de férias) e o limite orçamental (todas as despesas estavam naturalmente a seu cargo), permitiram-lhes passar apenas 21 dias na Índia. Apesar de curta, a experiência abriu-lhes os horizontes e mudou a forma como encaram a vida.
Lição de vida
Em Kanda, uma pequena aldeia no norte da Índia, a dia e meio de distância da capital, Delhi, foram encontrar uma pequena comunidade familiar com as portas abertas a todos os que querem conhecer a Índia rural, apenas como turistas ou contribuindo com o seu trabalho para o desenvolvimento local.
Longe de todo o conforto a que naturalmente estava habituada (“Lá não há casa de banho, água quente para tomar banho e come-se no chão, tendo apenas a mão a fazer de talher”, relata), Ana acabou por fazer de tudo um pouco. Desde ensinar inglês às crianças, ao trabalho no campo, passando pela participação na construção de um edifício destinado a servir de alojamento a novos voluntários.
O resultado foi uma “experiência muito intensa” e uma “lição de vida” que nunca mais irá esquecer.
“Eu senti-me como fazendo parte da família. Aliás, o Jeevan, responsável pela comunidade, disse ao despedirmo-nos, que deixámos uma família na Índia. Que ele e a sua família são agora da nossa família, como nós somos da deles”, afirma.
Ana Cardetas espera poder regressar à Índia e voltar a ajudar, através da sua presença e do seu trabalho, a comunidade que tão bem a acolheu. Até lá, esforça-se em divulgar a sua experiência e a ONG com que colaborou.
Local único
A ROSE – Rural Organisation for Social Elevation é uma comunidade rural, no Kanda, a norte da Índia. Propriedade de Jeevan Verma, está disponível para receber todos os que querem conhecer a Índia rural, como turistas ou como voluntários em áreas como ensino, agricultura, construção, serviço social, entre outras.
Por 350 rupias por dia (inclui alimentação e alojamento), o equivalente a cerca de seis euros, os visitantes/voluntários podem partilhar o dia-a-dia de uma família indiana e envolver-se nas actividades da comunidade, ao mesmo tempo que usufruem da tranquilidade e da beleza de uma zona única, com vista para os Himalaias.
A taxa de inscrição é de 3500 rupias por pessoa.
R.O.S.E. - Rural Organisation for Social Elevation
Todas as fotos deste post por Ana e Ari.