sábado, 1 de setembro de 2007

Adão e Eva

Há muitos anos atrás, movidos pelo amor a um ente querido falecido, um pequeno grupo de franceses viajou até ao Porto, para descobrir as suas raízes.
Foi assim que a minha família descobriu que tinha parentes franceses.
Desde então, fortaleceram-se laços entre as gerações mais velhas das duas famílias, que afinal têm a mesma origem, e hoje se consideram como uma só.

Depois dos Açores, no final de Agosto, rumei com os meus pais em direcção à Normandia, para visitar a parte francesa da nossa família.
Quando dei por mim, estava sentado a enormes mesas de jantar, rodeado de parentes franceses das mais variadas idades, a maioria dos quais conhecia pela primeira vez.

É incrível a natureza, como funciona, como sobrevive e se multiplica!
Pensar que a junção de duas simples células, provenientes de dois seres multicelulares complexos, desencadeou todo um conjunto de acontecimentos ao longo de vários anos, cujo germinar se repetiu geração após geração, até chegar aos dias de hoje, em que todas elas partilham vivências, se cuidam mutuamente, e lutam por assegurar que o processo irá continuar a perpetuar-se, a partir das gerações mais novas...
Eu sou fruto de um desses germinares, do lado português.

(Este tema dá tinta para muitas canetas, e já tem um capítulo reservado no meu livro.)

Na verdade, não fosse eu conhecer a história dos meus antepassados, e poderia cruzar-me, numa das minhas viagens, com um parente, e contactar com ele como contactaria com um qualquer estranho!
Afinal de contas, quantos parentes não teremos todos nós?
Até onde conhecem a vossa história, até onde conseguem ver para baixo, em direcção à raiz da vossa árvore genealógica?

(Espreitem este site: www.geni.com .)

Tendo em conta a exponencial explosão demográfica, desencadeada desde a revolução industrial, ou então viajando até ao passado em que a população mundial tinha muitos menos algarismos, poderei afirmar, com segurança razoável, que o leitor será provavelmente meu parente. Este assunto é, talvez, o tema central do livro mais famoso e lido em toda a história da humanidade. Mas também pode ser facilmente comprovado com aritmética, essa sim, tal como toda a matemática, inegável.

A propósito, esta é uma das teorias mais extraordinárias que já absorvi, e que tantas vezes contemplei num quadro sobre a história da matemática, no 5º Piso da Universidade, enquanto esperava pelos meus professores catedráticos, para discutir um qualquer tema relacionado com a minha progressão nos estudos:

"Nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos."
Demónio de Laplace, Pierre Simon Laplace (Fonte: Wikipédia)

Viagens laplacianas à parte, a verdade é que nasceu um carinho mútuo entre as partes francesa e portuguesa, que acho admirável e muito prezo. Acima de tudo, tenho vindo a presenciar uma dedicação à família que me parece extraordinária, movida pelas gerações mais velhas, já com outra experiência e sabor de vida. Pelo meio redescobri-me, e aos meus também...

Deixo aqui uma simbólica homenagem cibernética ao meu bisavô paterno:


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