sábado, 28 de abril de 2007

Bienvenue en Algérie


Desta vez aterrei em Argel.
Na pista, em volta do avião, a polícia mantinha um dispositivo de segurança. No caminho para o hotel perdi a conta às pequenas barreiras policiais, à chegada ao hotel os seguranças fizeram uma rápida inspecção ao motor e mala do táxi e, por fim, mesmo à entrada do hall havia uma máquina de raios-x e um detector de metais. Nada de anormal para um argelino.

Ainda não tive tempo para conhecer um pouco da cidade. Cheguei, desfiz as malas e ainda não saí da rotina hotel-trabalho-hotel.
Tenho que admitir que o mundo árabe exerce sobre mim um certo encanto. Porquê? Pelas cores, odores, grande espírito de abertura e simpatia para com os estrangeiros que tenho sentido nas pessoas.

Dizem-me que os argelinos invejam os países vizinhos, nomeadamente a Tunísia e Marrocos, pelo turismo. Infelizmente aqui o terrorismo continua a ser um grave problema.
Ontem, numa das viagens que fiz de táxi, o taxista falava com orgulho dos locais interessantes para visitar na cidade. “Ce le Ministère des Finances.”, disse ele enquanto apontava para um imponente edifício, todo espelhado e de arquitectura moderna.
A Argélia é um país com bastantes recursos, e exporta inclusivamente gás natural para Portugal. Nos últimos tempos o governo tem vindo a construir novos ministérios, sinais da riqueza que a Argélia começa a acumular.

Ontem ao jantar comi o tradicional couscous. Escolhi um couscous de vegetais, que foi acompanhado por um molho de tomate, também com vegetais. Para ajudar a criar ambiente, havia música tradicional árabe ao vivo e também uma dança do ventre.
Enfim, instalou-se o encanto das Mil e Uma Noites.

Tadjine


Para terminar escolhi o tradicional thé à la menthe, que tanto apreciei quando estive em Marrocos. Muito melhor do que as águas tónicas com quinino em Moçambique, que ajudavam a prevenir a Malária.

Chicha

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Mission Status

Movimentando anualmente biliões de dólares, o turismo é a maior indústria do mundo.
Ao ritmo de crescimento actual, este sector chegará em 2020 à facturação de 2 triliões de dólares por ano.

Tudo começou em 1841, quando o comerciante inglês Thomas Cook, vendedor de bíblias, criou o primeiro pacote de viagens de que há registo. Naquela época, a Inglaterra, à semelhança de outros países europeus, estava cada vez mais integrada por caminhos férreos, mas o sistema tarifário era complexo para o cidadão comum e havia pouca oferta de alojamento. Para ajudar os participantes de um encontro de combate ao alcoolismo que teriam de percorrer o trajecto de 17 kms entre as cidades de Leicester e Loughborough, na região central da Inglaterra, Cook teve a ideia de fretar um comboio com tarifas reduzidas e organizar a viagem. Conseguiu reunir mais de 500 interessados. Entusiasmado com o sucesso da empreitada, abandonou o antigo negócio para criar a primeira agência de viagens do mundo, baptizada com o seu próprio nome.
(Fonte: Portal Exame 05.04.2007)

A título de curiosidade, segundo o ranking da World Tourism Organization, Portugal ocupava em 2004 o 19º lugar no Top 25 de Destinos Mundiais de Turismo.
Os primeiros 5 lugares eram ocupados respectivamente pela França, Espanha, Estados Unidos, China e Itália.

Viajar está-me no sangue. É indescritível a sensação de pisar pela primeira vez o solo de um país diferente.
Quase de malas feitas para mais uma viagem, resolvi enumerar os países por onde já passei.

Viajei: África do Sul, Alemanha, Andorra, Argentina, Áustria, Chile, Eslováquia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Luxemburgo, Marrocos, Moçambique, Portugal (Continental + Madeira) e Reino Unido.
Vivi: Bélgica e República Checa.

Felizmente pertenço à minoria que tem a possibilidade de viajar além fronteiras e conhecer um pouco mais desta nossa casa a que chamamos Terra.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Espírito Moçambicano

Somos o que vivemos.
Logo, as pessoas com quem contactamos em casa, na rua, no trabalho, na escola, no restaurante, todos os dias, esporadicamente, ou apenas uma vez, todas elas fazem parte da nossa vida.
Umas mais do que outras, sem nos apercebermos, mesmo sem falarmos com todas, as pessoas que cruzam o nosso caminho constituem o cenário da nossa vida e, por isso, inevitavelmente acabam por nos tocar.
À pouco tempo ouvi numa série televisiva uma expressão que me marcou: "A vida é feita de salas." Dá que pensar, não dá?

Sempre vivi a olhar para o futuro, mas afinal não é assim que vivem as sociedades ocidentais? O objectivo de cada é sempre tentar atingir algo. As pessoas estão tão preocupadas em ir de A a C que até se esquecem da beleza das coisas simples, sem viverem realmente os entretantos. E o tempo não anda para trás...

Por vezes dou por mim a imaginar-me deitado numa cama, daqui a muitos anos, com idade avançada, e a recordar a minha vida e as opções que tomei.
O meu maior medo é nesse momento chegar à conclusão do quão cobarde fui em não ter seguido os meus sonhos.
A vida é a nossa maior viagem.
As opções que tomamos, as pessoas que escolhemos para estar, os lugares onde vivemos, tudo é vivido apenas uma vez.
Esta é a verdadeira magia da vida.

Actualmente luto para abrandar o ritmo e conseguir apreciar o presente. Não tem sido fácil.
Tenho uma filosofia de vida que me faz procurar evoluir interiormente, analisar os meus erros e tentar melhorar.
Mas sempre tentando ser eu próprio.
Ainda hoje luto pelos meus sonhos.
Pois a verdadeira emoção da vida é sermos nós próprios, iguais a nós mesmos e fazendo o que gostamos.
Não apenas mais alguém, igual a outros tantos alguéns.
Sou assim, porque EU me sinto bem. Tal como na famosa frase do Boom: Why "B" normal when you can "B" yourself...
Todos temos os nossos defeitos, mas certamente haverá sempre alguém neste mundo disposto a conhecer-nos verdadeiramente para além da nossa camuflagem rotineira.
Por exemplo, hoje consigo reconhecer que tenho um feitio extremamente difícil.
Quando em conflito tenho dificuldade em fazer passar a minha mensagem e muitos me viram as costas.
Já cheguei a duvidar de mim próprio: "Devo ser mesmo intratável!"
Felizmente os meus amigos conhecem bem o meu mau feitio, mas também conhecem o meu coração e a minha sinceridade.
Lembrar-me deles dá-me alento, renova a minha auto-estima e energia.

Quando olho para uma criança vejo um ser inocente.
Todos fomos crianças um dia.
Então, em que parte da nossa viagem decidimos mudar, deixar de perseguir os nossos sonhos, e de olhar para as outras crianças como apenas mais crianças, tal e qual como nós próprios?

Regressei há mais de um mês e Moçambique ainda bate cá dentro.
Lá, a esmagadora maioria das pessoas vive o dia-a-dia tentando apenas sobreviver. Tanta miséria...
E os brancos ali ao lado com tudo em demasia.

Já tive esta discussão com colegas que também lá estiveram, e outros que ainda lá estão, e tenho uma visão diferente de Moçambique.
De uma forma geral, e até mesmo inadvertidamente, o branco quando chega a África assume imediatamente uma posição de superioridade.
Quem o negar não quer ver o que está à vista.
Eu próprio consegui reconhecer certos sintomas em mim.
Mas penso ser uma reacção natural quando se é educado por uma cultura ocidental.

A verdade é que a dada altura os meus olhos assistiam a pessoas a serem maltratadas psicológica e emocionalmente.
Aqui em Portugal nenhum de nós o admitiria, fosse a quem fosse.
Tais situações eram mais evidentes nos restaurantes, onde, pela situação que ali se impõe, existe logo à partida uma certa relação de serventia do empregado para com o cliente. Mas estas situações eram apenas o cartão de visita para a realidade instalada.

Sim, é verdade que o branco trabalha muito em África, mas será apenas seu o suor que cai na terra?
Não podemos esperar certas atitudes, reacções e sentimentos de quem teve um passado completamente diferente do nosso, já para não falar no presente.

Inocente é o branco quando pensa que o negro africano é ingénuo e de fraca inteligência.
Este é tão astuto que se aproveita do sentimento de superioridade do branco para lhe dar a volta.

Os moçambicanos ainda têm um longo caminho a percorrer, e claro que o homem branco terá um papel fundamental para os guiar. Consegui realmente ver um futuro animador para aquele povo. Espero que pelo caminho não perca a sua identidade e modo de estar, que para mim foi inspirador.

Esta foi a realidade que trouxe comigo de Moçambique: pessoas ricas, com um espírito de abertura muito grande, mesmo com graves necessidades primárias.
Luta pela sobrevivência e afirmação, muita animação e um potencial enorme para o desenvolvimento económico-social, foi o que senti naquela terra de clima extraordinário, praias de sonho e odores característicos.

Para terminar, eis algumas expressões caricatas, que de certa forma ilustram bem o contraste entre a cultura ocidental e a moçambicana:

B - O João já veio?
N - Há-de vir.
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B - O trabalho já está feito?
N - Há-de se fazer.

Este é o espírito moçambicano. ;)